

Não basta trocar o diesel pelo elétrico, é preciso mudar a lógica das cidades
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O especialista em mobilidade urbana Sérgio Avelleda, fundador da consultoria Urucuia, esteve presente na UITP Global Public Transport Summit, o maior congresso internacional do setor, realizado em Hamburgo, na Alemanha. Em entrevista à Rádio Ônibus, ele compartilhou percepções, alertas e sugestões práticas para que o Brasil avance rumo a uma mobilidade mais sustentável, segura e eficiente.
Avelleda destacou que o evento, dividido entre assembleias, debates técnicos e exposições, contou com mais de cem painéis simultâneos, além da presença de grandes players do setor de ônibus, trens e novas tecnologias. Entre os destaques, a ausência completa de ônibus a combustão interna nas exposições: apenas modelos elétricos ou movidos a hidrogênio foram apresentados pelos fabricantes.
"Já existem mais de 320 ônibus a hidrogênio operando comercialmente em Los Angeles, e mais de 45 em Barcelona. A tecnologia está avançando, o custo caindo, e o Brasil precisa se preparar para essa realidade", alertou.
Outro ponto que chamou a atenção do especialista foi o uso de um único cartão de transporte para todo o território alemão, algo que ele vê como um exemplo de integração e simplificação que o Brasil deveria perseguir.
Avelleda acredita que o Brasil tem todas as condições de ser referência mundial em mobilidade sustentável. Segundo ele, a matriz elétrica brasileira é uma vantagem incomparável: 86% da energia do país vêm de fontes renováveis, o que potencializa o impacto positivo da eletrificação da frota de ônibus.
"Mas não adianta trocar um ônibus a diesel vazio por um ônibus elétrico vazio. Também não adianta ter ônibus elétrico preso em congestionamento. É preciso dar prioridade física ao transporte público", defendeu.
O especialista reforçou a importância de desenvolver mecanismos para capturar a valorização imobiliária gerada pelos projetos de transporte. "O aumento no valor de um terreno próximo a um corredor de ônibus não pode beneficiar apenas o proprietário. Essa valorização é fruto do esforço da sociedade, e parte dela deve ser reinvestida em mobilidade", explicou.
No evento, bancos internacionais como o BID, BNDES, CAF e o Banco Mundial discutiram modelos de financiamento baseados nesse conceito, já aplicados com sucesso em diversos países.
Avelleda também chamou atenção para a crescente concorrência com modais individuais e aplicativos, como motos por aplicativo e mototáxis. Para ele, esse avanço pode ameaçar a viabilidade do transporte coletivo.
"Legalizar concorrentes diretos, como o mototáxi, é um erro estratégico. O transporte público é a espinha dorsal da mobilidade urbana. Enfraquecê-lo é criar o caos."
Ele defende que o setor invista em marketing institucional, melhorando a imagem do transporte coletivo e valorizando a experiência do passageiro, desde a calçada até o destino final.
A digitalização também foi um tema recorrente na conversa. Segundo Avelleda, aplicativos que integrem pagamento, localização dos ônibus e personalização da viagem são fundamentais para reconquistar e fidelizar passageiros. "O celular precisa ser o controle remoto da mobilidade. E já temos tecnologia para isso."
O Brasil e seu potencial de liderançaFinanciamento e valorização urbana: o desafio estruturalConcorrência desleal e marketing do transporte públicoTecnologia e experiência do usuário

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