
São Paulo precisa se mover: desafios da mobilidade urbana integrada na maior cidade do Brasil

São Paulo, a maior metrópole do Brasil e uma das maiores do mundo, enfrenta diariamente o desafio de transportar milhões de pessoas em seus deslocamentos urbanos. Com uma população que já ultrapassa os 12 milhões de habitantes e uma frota de veículos que, especialmente nos horários de pico, transforma o trânsito em um verdadeiro caos, a mobilidade urbana se apresenta como uma das questões centrais para o próximo prefeito.
Nos últimos anos,
conceitos inovadores vêm surgindo no cenário global para lidar com esse
tipo de desafio. Ações que aliam criatividade e tecnologia são
fundamentais no sentido de migrar novos usuários para o transporte
público, reduzindo o
volume de carros nas ruas. Muito se fala, por exemplo, da tarifa zero,
da gratuidade. Particularmente, entendo que a solução para transferir
condutores de carros para o transporte público não está necessariamente
ligada à questão financeira, mas,
sim, na disponibilidade e na eficiência do serviço prestado.
Imagine pegar na porta de
sua casa um táxi ou carro por aplicativo até a estação de metrô ou trem
mais próxima. De lá, usar o transporte por trilhos ou pegar um ônibus
até o ponto a 100 metros de onde trabalha. E tudo isso pagando um valor
único já definido no começo de sua jornada.
Essa forma de mobilidade é
o que chamamos de MaaS (Mobility as a Service) ou Mobilidade como
Serviço. Uma solução que integra diferentes meios de transporte em uma
única plataforma, permitindo que o usuário planeje, reserve e pague sua
viagem por
meio de um aplicativo ou sistema centralizado. Ou seja, o MaaS oferece
uma abordagem que pode transformar significativamente a maneira como São
Paulo se movimenta, com foco em eficiência, acessibilidade e
sustentabilidade. Essa integração permite ao
cidadão escolher a melhor combinação de modais para seus deslocamentos
diários, promovendo mais conveniência, economia de tempo e,
potencialmente, uma expressiva redução nos custos individuais e
coletivos do transporte.
Para isso, é preciso
avançar significativamente na integração entre modais e resolver
gargalos que afetam o transporte público. E, pasmem, o gargalo não está
na tecnologia! A cidade de São Paulo já deu passos importantes nesse
sentido, como a
implementação de bilhetes integrados entre ônibus e metrô. Ainda não há,
no entanto, a integração com os ônibus que se deslocam para as demais
cidades da região metropolitana ou com outros modais privados.
A integração plena entre
os modais de transporte é o principal fator de sucesso para que o MaaS
funcione de maneira eficiente. Hoje, ainda existe em São Paulo uma
fragmentação significativa entre os diferentes modais. Para que o
sistema de
mobilidade urbana possa ser verdadeiramente transformado, será
necessária uma integração tarifária, operacional e de dados entre os
transportes coletivos e privados.
O transporte público, por
exemplo, deve se conectar de maneira mais eficiente com serviços de
transporte por aplicativo, táxis e bicicletas compartilhadas,
proporcionando rotas flexíveis e alternativas para os diferentes tipos
de viagens. As PPPs
serão fundamentais para viabilizar essa integração, garantindo que tanto
o setor público quanto o privado trabalhem juntos em prol de um
objetivo comum: melhorar a mobilidade de São Paulo.
A integração entre modais
também pode trazer benefícios para a sustentabilidade da cidade. Com a
utilização de diferentes meios de transporte, de maneira eficiente, o
uso de carros particulares diminui, fato que contribui diretamente para a
redução da poluição e dos congestionamentos. E para que a integração dos
modais seja possível e que o MaaS funcione em São Paulo, a cidade
precisa implementar uma Mobility Clearing House (Casa de Compensação de
Mobilidade), que deve incluir
tanto os transportadores públicos dos entes municipais ou estaduais,
públicos ou privados, todos estruturados em uma governança que
centralize as ações com eficiência e transparência. Esse sistema de
compensação pode atuar como uma central de
gestão de dados e fluxos financeiros entre as diversas operadoras de
transporte envolvidas no MaaS, garantindo que todos os serviços sejam
pagos corretamente e que os usuários possam realizar suas viagens com
mais fluidez.
A Mobility Clearing House
atuaria como um intermediário que garante que os pagamentos feitos pelo
usuário — seja via aplicativo, cartão ou qualquer outro meio — sejam
distribuídos de maneira justa e transparente entre as diferentes
operadoras
envolvidas na viagem. Isso permitirá que todos os participantes do
ecossistema de mobilidade sejam remunerados de forma proporcional ao
serviço prestado, incentivando a colaboração e o desenvolvimento de
novas soluções de mobilidade. A cidade de
São Paulo ainda não tem essa integração, mas esse modelo de Mobility
Clearing House já existe e está implantado com sucesso na Região
Metropolitana de São Paulo, integrando EMTU, Metrô, CPTM e ônibus dos
municípios de Arujá, Cotia, Taboão da
Serra e Rio Grande da Serra.
O próximo prefeito de São
Paulo tem uma oportunidade única de transformar a mobilidade urbana da
cidade com a implantação do MaaS, uma solução viável e promissora para
enfrentar o desafio de uma cidade congestionada e poluída. Para que essa
solução seja bem-sucedida, será necessário, porém, um forte compromisso
com a integração entre modais e a implementação de uma Mobility Clearing
House eficaz. Mover São Paulo rumo a um futuro mais eficiente,
sustentável e acessível exige uma
visão estratégica e a colaboração entre governo, setor privado e
população. Com as medidas corretas, é possível criar uma cidade onde o
transporte vá além de uma necessidade, mas seja um serviço que, de fato,
melhore a qualidade de vida dos
paulistanos. Alô, futuro prefeito, São Paulo precisa se mover e o
caminho é a integração.
Daniel Bulha, diretor Executivo da Abasp


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