Os ciclistas como protagonistas da mobilidade urbana sustentável

14/02/2025
Rafaela Aparecida de Almeida, doutora em Gestão Urbana e docente no Centro Universitário Internacional Uninter.
Rafaela Aparecida de Almeida, doutora em Gestão Urbana e docente no Centro Universitário Internacional Uninter.

Enquanto Paris, sede da última Olímpiada, comemora que o número de viagens de bicicleta (11,2%) supera as de carro (4,3%) em viagens na região central da cidade, as cidades brasileiras ainda precisam "pedalar muito" para atingir estes números. A capital Paranaense, Curitiba, apenas 2,1% dos deslocamentos são feitos de bicicleta, enquanto 45,8% são realizados de carros. Na capital carioca, a proporção é de 1% de bicicleta para 23% de carro. Em São Paulo, esse percentual é ainda menor, com apenas 0,8% dos deslocamentos ocorrendo por meio de bicicletas.

O tema da mobilidade urbana sustentável, também conhecida como mobilidade ativa (representada por deslocamentos não motorizados, com maior representatividade na caminhada e uso de bicicletas), vem ganhando protagonismo nos planos diretores das cidades brasileiras, por contribuir para a redução de congestionamentos, das emissões de gases poluentes e melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. Contudo, ainda enfrenta uma série de desafios e perigos que devem ser considerados e superados para que possam desempenhar plenamente seu papel na mobilidade urbana.

Uma das principais contribuições dos ciclistas é a redução do número de veículos em circulação nas ruas, por consequência, dos congestionamentos e do tempo de deslocamento. Além disso, as bicicletas são protagonistas da mobilidade sustentável. Sem emissão de gases poluentes, elas ajudam a reduzir a poluição do ar e sonora, contribuindo para um ambiente mais limpo e saudável. No campo da saúde pública, o uso regular da bicicleta promove a prática de exercícios físicos, o que resulta em uma população mais saudável e uma possível redução nos custos de saúde pública.

Perigos para os ciclistas

Na contramão, os ciclistas enfrentam diversos desafios. A infraestrutura inadequada é o primeiro deles, uma vez que muitas cidades não possuem ciclovias ou ciclofaixas que segregam o tráfego de bicicletas dos carros, há ainda a falta de bicicletários e sinalização apropriada, o que desestimula o uso deste modo de transporte e coloca em risco a vida dos ciclistas.

A segurança é uma grande preocupação. Segundo dados da ABRAMET, o número de atendimentos de acidentes com ciclistas saltou de 9.238 em 2014 para 15.573 em 2023. As estatísticas demostram que a maioria desses acidentes ocorre devido a falhas na infraestrutura urbana e à falta de conscientização dos motoristas. Além disso, o furto de bicicletas é também um problema que afeta a segurança e a confiança dos usuários.

Mas afinal de contas, o que falta para incentivar o uso da bicicleta nas cidades? Investir em infraestrutura é fundamental. A construção de ciclovias segregadas, seguras, bem conectadas e iluminadas, assim como a instalação de bicicletários, são medidas básicas que precisam ser implementadas. Além disso, campanhas educativas e de conscientização são necessárias para educar ciclistas e motoristas sobre as regras de convivência no trânsito. Por fim, a integração da bicicleta com outros modos de transporte, como ônibus, metrô e VLT, pode tornar as viagens intermodais mais eficientes e atrativas.

E vale lembrar, a valorização dos ciclistas é essencial para o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis e com maior qualidade de vida para sua população.