Ônibus elétricos precisam ser sustentáveis além de não poluentes, afirma presidente da Eletra, que está na COP-30

10/11/2025

A discussão global sobre descarbonização dos transportes avança, mas um alerta ganha força dentro do setor: ser elétrico não é suficiente. Para ser verdadeiramente transformador, o ônibus precisa ser sustentável também em sua concepção, em sua produção e em sua aplicação prática nas cidades. A afirmação é de Milena Braga Romano, diretora-presidente da Eletra, empresa brasileira líder na fabricação de ônibus elétricos e referência em tecnologia nacional para mobilidade urbana de baixo carbono. A companhia tem participação ativa na COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que é realizada em Belém (PA).

A Eletra, que há quase três décadas desenvolve tecnologia própria para propulsão elétrica, está presente na COP-30 na mesa de debates sobre descarbonização dos transportes da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), também participa da operação de transporte oficial das delegações em parceria com a BRT-Amazônia e é responsável pelos 40 ônibus elétricos que compõem o BRT Metropolitano de Belém, sistema que recentemente passou a oferecer viagens mais confortáveis e com tarifas menores para a população da região metropolitana, graças a um novo modelo de integração entre cidades.

Segundo Milena, o Brasil vive um momento singular na transição energética do transporte coletivo. O país já possui uma das maiores frotas de ônibus elétricos da América Latina e consolidou capacidade industrial própria, o que garante autonomia estratégica, geração de empregos e desenvolvimento tecnológico local. Ela destaca que esse percurso não se fez sem persistência: "Quando a Eletra nasceu, falar em ônibus elétricos no Brasil parecia utopia. Hoje estamos na COP-30 mostrando que essa utopia se tornou política pública, indústria nacional e impacto social positivo."

Para a diretora-presidente, sustentabilidade é um conceito que vai além da redução de emissões. Envolve a capacidade de o veículo ser adaptado ao contexto operacional de cada cidade. Ela afirma que a flexibilidade é um diferencial brasileiro: "Não existe um ônibus elétrico universal. Países como o Brasil têm realidades climáticas, sociais e econômicas muito distintas entre si. É por isso que a produção nacional é estratégica. Não basta importar um modelo pronto; é preciso desenvolver a solução certa para cada operação, junto aos operadores e gestores públicos."

Nesse sentido, a Eletra mantém, além da fabricação, um trabalho de consultoria técnica denominado Eletra Consult, que orienta desde o planejamento da infraestrutura de recarga, obras nas garagens e adaptação de linhas até o treinamento de eletricistas, motoristas e mecânicos, além do desenho financeiro ideal para cada cidade e empresa. Milena lembra que a eletrificação abre portas para novos ciclos de uso das baterias, que futuramente poderão alimentar hospitais, escolas e residências. "Sustentabilidade é pensar o ciclo completo e o futuro que ele viabiliza", afirma.

Na avaliação da executiva, um transporte verdadeiramente sustentável precisa equilibrar três dimensões. A ambiental, que reduz a emissão de poluentes e melhora o ar das cidades. A econômica, já que os custos de manutenção e operação tendem a cair à medida que baterias se barateiam e tecnologias se consolidam. E a social, que se expressa na geração de empregos qualificados na indústria nacional, no fortalecimento da economia local e na melhoria direta da experiência do passageiro. "Transporte público não é despesa, é investimento. Quem anda de ônibus elétrico sente imediatamente a diferença no conforto, no silêncio e na qualidade do trajeto. Não é apenas deslocar pessoas, é oferecer dignidade", diz Milena.

Ela conclui afirmando que a transição energética não deve ser tratada como tendência, mas como compromisso. "Tenho convicção de que o ônibus elétrico vai além de não poluir. Ele é uma ferramenta de transformação urbana, econômica e humana. Quando o passageiro escolhe esperar pelo elétrico, ele não está escolhendo apenas um meio de transporte; ele está escolhendo o futuro."