Setor regular de transporte rodoviário amplia oferta de vagas para motoristas
Empresas regulares encontram dificuldades na contratação de motoristas por falta de qualificação, mas se estruturam para formar novos profissionais
Com a chegada da alta temporada, o setor de transporte rodoviário de passageiros prevê a contratação de 18% novos motoristas para atender a demanda do período. Atualmente, a falta de motoristas qualificados é motivo de preocupação para as empresas de ônibus, que têm dificuldade em contratar profissionais qualificados e, assim, atender ao aquecimento do mercado de viagens em função da demanda crescente de passageiros por conta da qualidade dos serviços prestados e do alto preço das passagens aéreas.
A preocupação é compartilhada pela Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviário do Estado de São Paulo (FTTRESP), que representa esses profissionais. Para Wilson Santos, diretor da entidade, a qualificação profissional tem sido um grande gargalo há alguns anos na indústria de transformação em geral e não está sendo diferente no setor de serviços, em especial, no transporte rodoviário de passageiros.
Para driblar esse desafio gigante do mercado, os caminhos encontrados pelas empresas associadas à Abrati - Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros - é formar os seus motoristas "em casa", reforçando os programas internos de desenvolvimento de novos condutores, com amplo trabalho de capacitação, acompanhamento e incentivo para esses novos profissionais, além de também ampliar o processo de qualificação de quem chega para trabalhar na função.
A empresa Andorinha, por exemplo, é uma das associadas que enfrenta a escassez de motoristas no mercado. Segundo o gerente de Tráfego da empresa, Nelson Ribeiro, é esperado um aumento de 10% no quadro de condutores para esse período, número que está difícil de alcançar este ano. Para suprir essa falta, a empresa possui uma escola preparatória, que atende tanto o pessoal de base -- manobristas, motoristas de linhas mais curtas e semiurbano -- quanto novos interessados ao cargo.
No Grupo Guanabara também, na base do Rio de Janeiro, onde atuam as empresas UTIL, Sampaio e Brisa, foi criado o projeto Escola de Aprendizado e Desenvolvimento de Condutores, que forma turmas especializadas de motoristas de coletivos rodoviários. São selecionados profissionais que possuem formação, mas pouca experiência e qualificação para operar equipamentos de alta tecnologia, como os veículos Double Deckers. As turmas são formadas com até 15 motoristas que revezam, ao longo de 45 dias, a sua capacitação entre aulas teóricas e práticas nos veículos apenas tripulados com os instrutores. Após esse período e posterior avaliação, eles se tornam aptos a operar ônibus clássicos em linhas curtas. Para dirigir um Double Decker, eles precisarão ter a formação completa, que dura 90 dias, além de todo um acompanhamento de saúde e medicina do sono.
Já a Expresso Itamarati desenvolve um programa semelhante, mas o ciclo de preparação é variável e depende do desenvolvimento do colaborador. O projeto é utilizado eventualmente quando algum colaborador, de qualquer outra função, se interessa pela carreira de motorista. A empresa apoia a mudança de categoria da CNH e oferece toda a preparação e acompanhamento para assumir o cargo.
Outro grande grupo do setor, o JCA realiza treinamentos recorrentes de acordo com as necessidades de cada motorista. As aulas duram em média três dias e reforçam os principais assuntos do Programa Motorista Padrão tais como: direção defensiva, prevenção de acidentes, economia de diesel, pontualidade, atenção com os ciclistas e reforço nos processos de atendimento ao cliente.
Além disso, o grupo conta com a Academia JCA, plataforma de ensino digital que divulga diversos conteúdos educacionais, como o DDS (Diálogo Diário de Segurança), treinamento que deve ser realizado todos os dias pelos motoristas.
Vale destacar também que, embora os desafios sejam grandes para o segmento, o Sest Senat (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), que tem atuação de destaque na formação e qualificação desses profissionais para o mercado, registrou mais de 993 mil alunos matriculados em cursos da instituição.
No entanto, mesmo com números expressivos, a entidade também está em alerta para o problema do setor e vem desenvolvendo uma série de ações e projetos para auxiliar as empresas na contratação de profissionais capacitados e, dessa forma, reduzir o déficit de mão de obra.
Entre as iniciativas mais recentes, a entidade afirma que vem atualizando o seu portfólio de cursos para acompanhar novas tendências em busca de conteúdos mais dinâmicos e inovadores e disponibilizou a plataforma Emprega Transporte (Link) na internet, fazendo a ponte entre o profissional que fez um dos cursos da instituição e as empresas de transporte.
Mesmo sendo vista como uma profissão eminentemente masculina, o Sest Senat aposta também na oportunidade para as mulheres, sendo essa uma possibilidade de preencher as vagas abertas para motorista. A entidade assinou um acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos dentro do projeto Qualifica Mulher para garantir capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade social e ampliar as oportunidades para elas no segmento.
Para finalizar, a porta-voz e conselheira da Abrati, Letícia Pineschi, destaca que o setor está muito otimista e espera gerar muitos empregos. Segunda ela, a retomada das viagens, a chegada do fim do ano, trazem um novo fôlego para os empresários do segmento, com expectativa de elevar as receitas. "Por isso, investimos muito em treinamento, pois além de termos benefícios com a ação, contribuímos para inclusões de mais pessoas no mercado de trabalho com oportunidades de crescimento profissional".
As empresas regulares do setor rodoviário ainda estão entre as que mais empregam. Recentemente, por exemplo, um levantamento da Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), retratou que a Viação Garcia ficou na 11ª colocação das empresas que mais geram empregos em Londrina (PR). Com cerca de 2,5 mil colaboradores, dos quais 929 alocados em Londrina, a empresa integra o Grupo GBS, que reúne ainda a Brasil Sul, Princesa do Ivaí e LondriSul.